segunda-feira, 22 de junho de 2009

De tudo só sobrou o lírio

O que aconteceu com a minha história?
O que aconteceu com a tua poesia?
Com a nossa vidinha feliz, e tudo aquilo que sonhamos por tantas vezes,
da garrafa de vinho branco, do filme, do colchão no chão da sala, da varandinha que de lá se via o trilho do trem?
O trem que nos levou pra longe, que carregou nos trilhos o que sentíamos.
Por vezes, penso que foi aquela viagem, que acabou com tudo. As vezes acho que foi, a minha mania de não ter medo de se expôr tanto, as vezes tenho certeza que não sei perdoar.
Porque a verdade é que eu nunca te perdoei.
E olha que eu tentei.
Me doeu na alma,
no corpo,
senti a dor percorrendo os pêlos dos meus braços,
e o gelo no estômago,
me doeu o canto do olho de tanto chorar a tua partida, a minha partida.
E dóia tanto que sentí o pensamento retardar.
De um todo sobrou o lírio que eu te dei,
aquele lírio branco que dizia no bilhete "Duvido você me amar".
O lírio que você com sua distração, esqueceu
em cima da mesa do bar.






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domingo, 21 de junho de 2009

No escuro


Não espere eu chegar.
Não arrume a casa para me esperar,
não ascenda todas essas luzes, eu gosto só da luz que fica na
entrada da porta.
Eu gosto só da tua luz.
Não ajeita a manta do sofá, deixa ela do jeito que está.
Não arruma a cama, deixa eu sentir o calor do teu corpo
que ficou nos lençóis, enquanto eu esperava o elevador.
Deixa eu ver o amassado da fronha do teu travesseiro, e aquele fio de cabelo que insite em cair no meu lado da cama.
Deixa as roupas pelo chão, e aquela blusa cinza furada que eu adoro tanto, deixa ela no tapete.
Deita comigo na cama, fecha os teus olhos e sonha comigo
detalhes da nossa felicidade.
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sábado, 20 de junho de 2009

Entendendo a porcentagem dos fatos


"Noventa por cento do que escrevo é invenção.
Só dez por cento é mentira".
*
Manoel de Barros

Não preciso do fim, para chegar




Com pedaços de mim eu monto um ser atônito.
Tudo que não invento é falso.
Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira.
Não pode haver ausência de boca nas palavras: nenhuma fique desamparada do ser que a revelou.
É mais fácil fazer da tolice um regalo do que da sensatez.
Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada; mas se não desejo contar nada, faço poesia.
Melhor jeito que achei para me conhecer foi fazendo o contrário.
A inércia é o meu ato principal.
Há histórias tão verdadeiras que às vezes parece que são inventadas.
O artista é um erro da natureza.
Beethoven foi um erro perfeito.
A terapia literária consiste em desarrumar a linguagem a ponto que ela expresse nossos mais fundos desejos.
Quero a palavra que sirva na boca dos passarinhos.
Por pudor sou impuro.
Não preciso do fim para chegar.
De tudo haveria de ficar para nós um sentimento longínquo de coisa esquecida na terra — Como um lápis numa península.
Do lugar onde estou já fui embora.
**
Manoel de Barros

quarta-feira, 17 de junho de 2009

As tuas cores


Lembrou nitidamente de fatos do passado, de longe quando à viu, observou
o perfeccionismo marcante, cada detalhe calculado de maneira surreal.
Teve dificuldade em falar sobre ela, não a conhecia.
Quis dividir com ela, a mesa, a conversa, o mesmo trabalho. Mesmo sabendo que o ego dela acreditava obstinadamente que ninguém seria capaz de fazer as coisas com tanta ordem e eficiência quanto ela.
Levou tempo tentando reproduzir uma escrita a modo que fosse surpreendê-la, que fizesse com que tirasse o papelzinho do bolso da bermuda preta, afim de relê-lo, lá em cima quando já tivesse entre as nuvens, rumo a tua casa. Ou quando na cama do teu hotel, estivesse.
Não conseguiu escrever, pensou que pudesse estar faltando peças nesse jogo, talvez fosse o vermelho da meia, e o amarelo dos sapatos, que combinava claramente com os olhos que insistiam em olhar mais pra boca do que para os olhos, não entendia.
Talvez fosse o casaco, verde musgo com listra preta, um jogo de cores, que não desviava o olhar, e quase as mãos, teve que se conter, ah teve!
No fim de um início, teve a certeza que foi culpa da pele branca e a franja curta que insistia em cair sobre os seus olhos castanhos.
Teve dificuldade de falar sobre ela, até porque sempre costumou dizer que ,tudo que "passa" vira texto, o presente ainda tem o vermelho, o amarelo, o preto, e o branco, mas a cor do futuro quem escolhe é ela.
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segunda-feira, 15 de junho de 2009

As mil faces, apresentando uma delas.



Eu que nunca fui de escrever sobre os melodramas da vida, particular ou alheia, coisas fúteis ao meu ver, coisas que divergem de várias opiniões, minhas, suas, de outros, dos de lá do outro lado do oceano.
Enfim, escrevo sobre o óbvio, escrevo porque amo as palavras, escrevo coisas já partidas, que já passaram, certamente quando alguém me fala " ei, escreve um texto pra mim", se já passou na minha vida até consigo, mas se não escrevo, é porque não passou.
Não consigo escrever sobre coisas presentes a menos que, este me chame muito atenção, desvie meu pensamento lógico ao extremo, mesmo quando a normalidade me ataca fico apreensiva, primeiro porque me engorda, segundo porque me faltam as palavras, as frases, e quase nada se encaixa em texto algum, resultado: menos textos, quilos a mais!
Vou escrevendo sem pensar, sem rima, sem parágrafo, sem corrigir, sem colar.
Escrevo jogando palavras em cima de frases, junto as coisas que partiram, com os alguns cacos recolhidos do chão, abaixo minha cabeça, levanto o meu lápis, e acabo mostrando uma face de mim.

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domingo, 14 de junho de 2009

Ansiedade



Ansiedade

de ficar em casa
de ver o tempo passar
de esperar a água ferver
de esperar o telefone tocar.

Ansiedade

de você não ligar
de você não perceber
de você aceitar
de você me só me amar.

Ansiedade

de comer o tempo todo
de querer correr
de tí, de mim, de nós, de toda essa gente.
de fugir contigo
pra bem longe, lá onde o vento sopra baixo.

Ansiedade

de te ver chegar
de te ver sair
de ver falar
de te ver por aí

Ansiedade

que dói
que me faz sofrer
mas nunca fez
não entendo
porque ansio
se sei, ao certo , mais certo que acertar a senha do banco.
Que você vem.
e a ansiedade? vai embora junto com toda essa saudade
que eu tenho daquilo que nem viví ainda,
daquilo que você deixou aqui só por um dia,
só por uma noite,
lembra disso?




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quinta-feira, 11 de junho de 2009

Fugindo de mim pra dentro de ti




Acordei,
arrumei a minha bagunça.
Toquei o pijama no canto do quarto,
escovei os dentes.
Não parava de pensar, no que me era
reservado.
Teve um dia, aquele dia, que eu já não conseguia mais
esquecer.
Daí fugi,
mas fugi pra ficar mais perto,
bem perto de ti.
Tô aqui do lado,
não tá vendo?
Já era hora de arrumar o quarto,
me colocar em ordem e por tua foto
na estante.
Já era hora de bater de frente na tua rua,
que rua?
Me fala onde fica tua casa,
me fala o que te distrai,
me fala o que te encomoda.
Eu te acalmo
eu te trago pra perto
eu te coloco no colo,
escrevo pra ti.
Mas pra isso,
sai pra rua, foge pra cá,
cruza comigo,
olha pro lado,
não tá vendo,
eu tô aqui!





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terça-feira, 9 de junho de 2009

A tua boca quando ri

Ela pensava tanto que chegava a sentir no lábio,
o formato da boca,
cada detalhe, do lábio, carnudo, hidratado, vermelho e saudável.
Cada ranhura do lábio, que a parte de cima é mais fina e tem um "M" bem preenchido, definido.
Até no cantinho da boca ela reparava, dentes enormes, brancos, bem retinhos, cada movimento lento ou rápido, quando ecoava cada palavra dita.
Principalmente, quando ria daquele jeito que ela nunca mais esqueceu, sim, porque ela viu bem de perto, quase que rindo junto, sabe boca quando pára de beijar, olha no olho e ri? Bem assim! E jamais pôde deixar observar aquele jeito ímpar de sorrir, que quando abre a boca e vai preparar para soltar aquela gargalhada, mostra a gengiva, quase ninguém repara nisso.
Mas ela, pelo contrário, sempre reparou e sempre foi o que mais chamou a atenção.
Tanto foi que quando chegou perto foi a primeira coisa que disse:
"Ei, ri daquele jeito!"
Sorriu igualzinho como ela imaginava, foi logo sorrindo e baixando a cabeça , com um sorriso meio tímido, meio sem-vergonha, meio que passando a língua da metade pro fim do lábio, aquele olho meio escondido pela franja, e querendo te dizer " não faz assim".
Não faz assim disse ela, não ri assim, não faça o que eu te peço, porque senão, eu não esqueço, nem um dia mais sequer, desse jeito só teu de sorrir.
Não faz isso com meu desejo disse, que se eu não fosse pra outra cidade amanhã de manhã eu ficava contigo!
E ela quase que se entregando, pensou logo em dizer, "me leva junto, deixa eu ir com você, sou pequena, quase nem ocupo espaço, fico alí quietinha, prometo não encomodar!"
Mas ela sabia que não podia ir, que não era a hora, que era hora de perceber que nada do que tinha planejado ía dar certo mesmo, o caminho era aquele alí a ser seguido, e ela que já tinha desistido de tudo, já tava pensando em casar e ter logo seus dois ou três filhos, sempre gostou de familia grande, pra reunir todo o time no churrasco de domingo.
Ela que deu o beijo de boa noite tão demorado que parecia que ía entrar boca à dentro, não queria esquecer de cada detalhe, de cada movimento do prá lá e pra cá da língua, do dente que mordia o lábio, e ela que sempre pensou, quando via sorrir de longe
"Aiii, se esse bicho morde...!",
não queria parar pra não ter que escutar,
" boa noite! me deixa teu email, amanhã saio cedo".
Ela viu a porta abrir, e como o um sorriso que se fecha, foi embora.
Entrou no carro não acreditando, que tinha chego assim, tão perto de cada ranhura, de cada movimento, de cada vez que ria e deixava a mostra a gengiva, detalhe assim que ninguém pensa em reparar, só você mesmo quando tudo já parece ser bonito.
Pegou a avenida, jurou que não ía esquecer mais daquele beijo, daquela boca, do dente mordendo o canto do lábio, do desejo de ficar, ou ir junto, não podia deixar escapar ali, olhou pro último andar e desejou boa noite, acompanhado de um sorriso choroso de felicidade.
Até mais! Disse, o meu desejo é o teu desejo,
isso não é um ponto final.
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sábado, 6 de junho de 2009

Saco cheio

Sempre tem um dia que você acorda
achando tudo um saco!
Achando que pode tudo e na verdade não pode nada,
acha que pode simplesmente sair por aí,
e na próxima esquina vai dar de cara com quem tava procurando?
Acha.
Acha que é fácil, assim ela sair pra rua?
Acha que é fácil, assim no terceiro dia já ter visto ela.
Achou mesmo que tava tudo dando muito certo.
Acha que ía ser assim pra você não dar valor, quando chegar a hora certa?
Acha.
Ainda bem que esse dia passa,
ainda bem que é só hoje.
Assim não desmotiva.
Ela vem eu sei que vem.
Eu não vim aqui a passeio não.
Sei que me espera. Sei que quando me avistar, mesmo ao longe, vai saber que eu vim aqui
só pra te ter.

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